terça-feira, 22 de outubro de 2019

Sai mais um pneu na chapa

A velha fábrica de inventonas do PAIGC está tão obsoleta que cai no mais absoluto ridículo, tecendo enredos completamente disparatados.

Mas comecemos pelo princípio.

Um cidadão ou cidadã, em privado, pode muito bem traduzir a sua revolta por um metafórico: “o que é preciso é partir a dentadura a Domingos”. É a sua liberdade e, mesmo que alguém esteja indevidamente a ouvir (como a segurança de Estado), nada pode fazer senão manter-se alerta para quaisquer actos preparatórios. Legalmente, só a tentativa produz efeitos condenatórios. É um princípio básico do Direito que ninguém pode ser condenado por pensar num qualquer acto, mesmo que criminoso. De facto, ouvidos os argumentos, aka Sissoko mais não fez do que dizer aquilo que a imensa maioria dos guineenses pensa. Que isto não pode ficar assim!

Para além da já estrutural e maquiavélica estratégia de imputar ao adversário os seus próprios objectivos (já aconteceu nas últimas legislativas, quando o PAIGC, que queria adiar as eleições - pois ainda não estava preparado - acusava disso mesmo o Partido que então lhe servia de bode expiatório), esta inventona tem ainda, e sobretudo, objectivos tácticos pontuais, consistindo em criar uma diversão, para desviar a atenção das pessoas das múltiplas contradições em torno do envolvimento dos actores com a mega-operação de tráfico de droga, uma cortina de fumo para encobrir as suas manigâncias tramadas ao mais alto nível do Estado.

Em termos técnicos: a qualidade da intoxicação é tão grosseira, que redunda numa única conclusão: Domingos Simões Pereira está tão desesperado, que já só lhe resta tentar tapar o sol com a peneira. A equipa de escribas, apesar de reforçada (com um ligeiro perfume francófono, desta vez… já agora, o verbo francês “reporter” - adiar - não pode ser importado literalmente, quem reporta, em português, é o repórter ou o subordinado ; conversation é simplesmente conversa e não “conversação”), não parece estar à altura do desafio, enrolando-se na própria retórica: “o desespero leva a actos e comportamentos muitas vezes incontroláveis e muito menos inaceitáveis.” A dupla negação dá à afirmação o sentido contrário ao desejado. “Nada inaceitável” é o mesmo que muito desejável. A confusão é grande. Inaceitável é o péssimo nível de produção de sentido nos comunicados desse partido, para quem se pretende do “arco do poder”.

Em termos de civismo e de fair play: nem que fosse só por uma questão de boa educação, tratar um adversário de “caduco” não é elegante. Neste caso, foi sobretudo pouco inteligente: desperdiçaram ingloriamente o cartucho, pois se fossem espertos, tinham reservado o fonema para um concorrente bem mais perigoso e consonante.

Em termos jurídicos: um partido que assume publicamente em comunicado o crime de violação de telecomunicações e que forja acontecimentos para pintar a circunstância, ainda tem a veleidade de se dirigir ao Procurador a reclamar justiça? A estratégia é conhecida: o verdadeiro ladrão, para criar confusão e encobrir a sua evasão, grita “ladrão, ladrão”. Isto faz-nos agora pensar em quais as verdadeiras razões para as resistências e entraves levantados por DSP à nomeação de um Procurador independente. O valor probatório das peças apresentadas para sustentar a acusação (a qual é em si ridícula) é nulo, segundo a jurisprudência, pela inadmissibilidade do meio de obtenção de prova. Havendo denúncia pública, o Procurador é obrigado a agir (neste caso, contra o denunciante, que deu um autêntico tiro no pé). É que, para lavar as mãos, não basta descartar as culpas afirmando que foi “vazado” na net. Quem vazou?  O repórter number one estava muito oportunamente de serviço no sítio certo (o vazadouro) e talvez possa dar umas pistas, para evitar ser condenado, pois a lei não condena apenas os responsáveis pela “vazadela”, condena também aqueles que a difundem.

PS Para o editor do DC: os alinhamentos revelam alguma falta de coerência; publica-se uma opinião onde se defende que não há Estado, para logo a seguir denunciar um Golpe de Estado? Se não há Estado, é um Golpe em falso. Além disso, ainda há pouco tempo defendiam convictamente o Golpe de Estado contra o presidente caduco… Afinal há Golpes de Estado bons (não é preciso muito esforço para adivinhar quais) e Golpes de Estado maus? Para os jornalistas da LUSA: um pneu a arder (convenientemente colocado) faz tanto um golpe de estado como uma andorinha (em Outubro) faz a Primavera.

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