quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Navio espião

Entrou ilegalmente (acordo assinado com um governo caduco) nas águas territoriais guineenses um navio espião batendo pavilhão castelhano, para fazer o inventário da biomassa, uma informação que interessa deveras à União Europeia. 

Neste momento, essa operação é estrategicamente inoportuna. É à Guiné-Bissau que essa informação interessa em primeiro lugar, e deverá ocorrer no âmbito de uma política nacional sistemática de cartografia de recursos, a qual, neste caso, para o trabalho ser bem feito, implica um plano de visitas plurianual (ou outras políticas de monitorização) para acompanhar a sazonalidade e compreender os ciclos regenerativos em causa. Efectuada pontualmente, como anunciado, traduz uma política simplesmente predatória, de localização e inventariação de stocks. Ou seja, usam 4 milhões de euros que dizem que pagaram à Guiné-Bissau, para contratarem os seus próprios técnicos e meios, a preço de ouro, para virem espionar como hão de conduzir as próximas negociações e melhor enganar nas contrapartidas.

Em todo o caso, quem deve ter a supervisão estratégica e científica são técnicos guineenses. No mínimo, é preciso garantir que toda a informação recolhida seja divulgada em bruto, para não mostrarem só o que lhes apetece, e, depois de estudarem a lição, viciarem ainda mais os negócios. Estamos fartos na Guiné de golpes, de corruptos, de incompetentes, de traidores. Não é prudente confiar o ouro à guarda do bandido. O "ouro" é a informação. Quem aceitaria jogar poker sabendo que o adversário já viu as suas cartas?

Atendendo a que vão haver eleições esta semana, que este pretenso governo é contestado, que a CEDEAO chega a dizer nos seus comunicados que há riscos de guerra civil... Num país onde não se sabe quem governa, não têm medo que aconteça alguma coisa ao valioso barco e seu equipamento? O agente de seguros estava a dormir e não exigiu um substancial aumento na apólice? Ou não declararam o destino?

 Têm muito tempo para fazer isso... qual é a pressa? 

PS De qualquer forma, atendendo às ameaças internacionais que pairam sobre o país, a Marinha nacional deve cumprir, nem que seja por simples rotina, a sua missão, certificando-se minuciosa e volumetricamente de que não existe, no interior do navio, qualquer compartimento oculto destinado a fins militares, que possam colocar em causa a segurança nacional.

Sem comentários:

Enviar um comentário