quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Ofensiva do MFDC

A PANA dá uma "notícia" imprecisa e atrasada, apenas para apontar o dedo à Guiné-Bissau. Deram-se ao trabalho de falsificar a hora de edição (apresenta 15h26, mas só saiu cerca de 8h depois), da história de um grupo de cerca de 30 homens armados que bloquearam por várias horas a Nacional 6 senegalesa (paralela à fronteira guineense), entre Kolda e Vélingara, nas proximidades de Tiara, espoliando (sem violência) os passageiros de uma dezena de toca-tocas e de duas dezenas de motas, a qual já tinha sido contada, com mais pormenores, no dakaractu. O que pretende a PANA, ao apontar falsamente a Guiné-Bissau como origem? Por que razão publicaram este artigo apenas em inglês, quando a linguagem principal é o francês? 

O facto é que há precedentes muito semelhantes, precisamente no mesmo local. Em 2011, já se fazia cobrança de portagens nos mesmos moldes, e pouco depois, a 12 de Março de 2012, por ocasião da primeira volta das presidenciais na Guiné-Bissau, e sempre no mesmo sítio, emboscada mortífera

Este ataque não é sequer novidade. Depois das ameaças, em finais de Abril, de voltar a pegar em armas para fazer andar as negociações, eis a declaração de guerra, com fotos de cara descoberta, publicada por ocasião do desencadear desta ofensiva, e três dias antes do ataque a que se refere a PANA (com 55 horas de atraso). Aparentemente, a gota de água que fez transbordar o copo foi, no princípio de Julho, a prisão e posterior condenação de vários homens de confiança de Salif Salio por "tentativa de reunião não autorizada", bem como o confisco do caixão do histórico do movimento Ousmane Diatta, ocorrida há pouco mais de um mês, seguida do assassinato do sobrinho Abdu, responsável pelas negociações de paz, no dia 27 de Outubro (do qual tentaram acusar o MFDC). O mal estar parece ser a nota dominante em Dakar...

Trata-se de um desafio ao exército senegalês transformar a estrada nacional em zona libertada, em pleno dia, por várias horas, repetida e previsivelmente. O modo de operar continua o mesmo de sempre: o grupo armado é o isco; sabendo dos imensos custos que representa manter uma quadrícula apertada no terreno, dispersando as forças, e oferecendo à guerrilha, com um conhecimento do terreno muito superior, a escolha do momento e do local da emboscada. Estarão o exército e o presidente senegaleses dispostos a pagar o preço da guerrilha? A boa vizinhança e o respeito mútuo sairiam bem mais em conta...

Macky quis encurralar Salif, mas saiu-lhe o tiro pela culatra. Pelos vistos, ao contrário do que defendem, este desferiu um rude golpe no exército senegalês. Paralelamente à ofensiva militar em curso, decorre uma ofensiva mediática, com a afirmação da liderança consolidada do CEMFA Salif Salio, contrariando a ideia de que, desde a morte, há uma dúzia de anos, do seu líder histórico, abade Diamacoune, o movimento se fragmentou em várias facções. Salio diz que não tem família nem medo de morrer pela sua causa, em vídeo censurado.

Os perigosos precedentes no corno de África (da Eritreia e do Sudão do Sul), vieram abrir uma brecha no princípio da intangibilidade das fronteiras do continente, ao qual sempre se agarrou o Senegal para denegar o inalienável Direito à Auto-Determinação do povo de Casamança. É chegada a hora.

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