sábado, 16 de novembro de 2019

Carapau de corrida dopado

As incoerências na sentença da operação Carapau são flagrantes. Se não fossem bichos a mais, seria caso para dizer que a montanha pariu um rato. A história simplesmente não tem pés nem cabeça. Se não, recapitulemos a versão Sol Mansi: 

1. Chegada do camião frigorífico vindo do Senegal
2. Compasso de espera de seis dias no armazém
3. Carregamento do camião com o carapau destinado ao Mali
4. Interpelação pela PJ (a PJ fiscaliza o pescado?)
5. Descarregamento do carapau do camião (sem mandato, nem suspeita?)
6. Constatada "anomalia" não especificada
7. Viatura transportada para a PJ durante a noite, a pretexto de inspecção técnica.
8. Descoberta "por acaso" a droga

É curioso, mas parece ser o carapau a droga. Ou seja, não há referência a qualquer investigação no sentido de apurar mandantes ou encobridores, a quem pertencia a cocaína, onde foi carregada, qual a origem, sequer quem pagava aos caras de pau mandados, se estes estavam ao corrente da substância e do montante da "guia de remessa"... enfim, tudo questões substanciais. É como se, num acidente provocado por uma carroça de mulas, se prendessem os animais e não se quisesse saber do dono!

Em vez disso, as "autoridades", segundo esta rádio, parecem estar ocupadas em equipar os Tribunais à custa dos bens apreendidos, denegando de facto o direito de recurso que assiste aos condenados (aves a quem decerto alguém prometeu substancial redução de pena, para manter o bico fechado). As denúncias que Doka vinha fazendo davam a entender que a PJ havia torturado os então acusados...

Nesta farsa, tem a palavra o Delegado do Ministério Público, a quem a Ministra da tutela acusou pessoalmente, em conferência de imprensa realizada um dia antes da leitura da sentença, de monopolizar e manipular o processo. Do confronto entre os dois, talvez possa sair alguma luz sobre esta questão. Quem encobre quem? Quem trama quem? O facto é que o funcionário da DEA garantiu que o Governo não estivera à altura das informações fornecidas. Parece mais que, por alguma razão, alguém foi apanhado com a boca na botija, e que tudo foi feito para o encobrir (eventualmente forjando provas e inventando bodes expiatórios). Armadilha da DEA? falsa cocaína? simples diversão para encobrir a verdadeira operação? tentativa de incriminar a oposição? quem não se lembra dos falsos testemunhos instantaneamente levantados, entre outros, contra o ex-Ministro das Pescas do PRS, Orlando Viegas (castigado por ter conseguido quase que duplicar a contrapartida financeira pesqueira da UE)?

Djoto frito mas peixe graúdo à solta... a "justiça" guineense é ofendida por mais uma desonrosa humilhação, lavrada em sentença tutelada de perto pela Ministra (para além da já mais que evidente e criminosa instrumentalização política da Polícia Judiciária), e impregnada de todos os vícios históricos que sobejamente se lhe conhecem.

PS É deveras estranho o próprio nome da operação (literal e não, como normalmente, por analogia): se a droga só foi descoberta por causa de uma "anomalia" (diferencial de tara detectada na báscula, ao pesar o peixe?), como adivinharam que seria carapau para a nomear? Foram os búzios? Operação Tara Perdida teria sido um nome mais adequado.

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