quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Língua estufada

Infelizmente o Senegal ainda não possui uma Academia Militar e os seus oficiais superiores são formados em Saint Cyr. De outra forma recomendar-se-ia o reforço do curso com uma disciplina de história "recente". Contudo, se lá em Saint Cyr não ensinam aos militares que devem preferir a continência (verbal), está muito mal. É que, há vinte anos, também cá tivemos um Coronel linguarudo, que veio para Bissau pavonear-se. Será preciso recordar-lhe o nome (que fizeram tudo para esquecer) ou lembrar-lhe a "carreira"? 

O senhor Wade (que se for da família do sucessor de Diouf, está a ser muito ingrato), Chefe de Estado Maior do Exército, afirmou ontem que o contingente senegalês vem para Bissau para "controlar a instabilidade crónica". Mesmo tratando-se de uma simples rendição contingencial, o senhor general deve ter tento na língua. Mas obviamente que os verdadeiros culpados deste abuso soberano são os traidores guineenses encabeçados por Domingos Simões Pereira, que anda por aí a mendigar uma intervenção militar contra o seu próprio país. 

O senhor General vá informar-se melhor, porque aqui em Bissau comemos djambars ao pequeno almoço, não se esqueça que a "instabilidade crónica" já engoliu bem mais de uma dúzia de vezes os magros números desse fraco contingente. Olhe que isso de ter mais olhos que barriga não é muito prudente, atendendo ao local e às circunstâncias (entre elas, de nos estar a enviar esses 205 reféns). Para além disso, fique a saber que, se desta vez derem algum tiro em Bissau, serão perseguidos até Dakar: é que há uns assuntos pendentes para resolver e não é equitativo estarmos sempre a ser invadidos.

Ao senhor presidente Macky Sall, recomenda-se que mantenha os seus soldadinhos debaixo de trela, para não arranjarem confusões desnecessárias, sobretudo agora que está a pensar em seguir o exemplo de Alpha Condé e alterar a constituição para se fazer eleger pela terceira vez. 

Quando um país é atacado de amnésia, é grave.

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